
Estou aos poucos lembrando trechos da palestra de Ariano Suassuna (ou seja, ainda “suassurano”). A certa altura, ele falou que estava um dia em casa e teve a infelicidade de ligar a televisão e deparou-se com uma banda chamada Calypso. Recitou ironicamente trechos da música ouvida. E desde então, passou a criticar a banda comandada por um homem chamado “Chimbinha”.
Certa vez, o seu neto falou para ele deixasse de falar mal da banda, pois existiam coisas ainda piores e se ele quisesse mostraria. Assustado com o que poderia vir, Suassuna rejeitou e disse que “tinha medo de ser contagioso”. Decidiu acatar o conselho do neto, mas voltou atrás ao ver uma matéria de capa em um jornal de grande veiculação nacional.
Na matéria, o jornalista afirma que “a banda tem cara do Brasil por ser brega” e que “Chimbinha é um guitarrista genial”. Diante desses elogios, ele ficou estarrecido e faz criticas também ao jornalista que escreveu essa matéria.
Diante desse fato, fiquei pensando nas coisas em que as pessoas acreditam ter e ser “a cara do Brasil”. Geralmente, idéias equivocadas e controversas, já que vivemos num país em que a realidade social é caótica e a cultural é mal disseminada. Já vivemos diversas eras, do sertanejo pop as mulheres frutas. Do Big Brother Brasil a Fazenda. Tudo vendido como parte da nossa cultura, tudo exibido como se fosse uma representação do povo brasileiro.
Então, me pergunto o que de fato conhecerá aqueles que somente têm acesso a cultura massiva? (imposta pela mídia, pelos grandes veículos de comunicação do país). Como saberemos acerca do nosso regionalismo, do nosso sotaque e costumes, se somos retratados em rede nacional por um sulista ou carioca?
Um país que parece comportar outros países. Multiplicidades e diferenças nem sempre respeitadas ou cultuadas devidamente. Além do estrangeirismo dominante, existe o eu estrangeiro dentro do nosso próprio país. Às vezes, conhecemos só o que a mídia apresenta, mas é preciso saber que sempre existe o mas..., o apesar de..., o que estar além do que se vê. Viva aos sotaques, ao regionalismo, a imersão pela cultura local, nacional.
As sábias palavras de Suassuna reavivou em mim o desejo de conhecer mais sobre nós, a fundo e sem disfarces. Sem retoques e sem o poderio da mídia ditando o que devo ouvir, ler, comer e beber. A verdade na maioria das vezes, não está exposta em prateleiras e nem estampada na primeira página de jornal ou revista.
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