Uma platéia lotada a espera de um mestre da nossa Cultura. Ariano Suassuna sobe ao palco do Cine São Luiz sob uma intensa chuva de aplausos, logo, desculpa-se pela voz rouca, agravada por um pigarro, herança do seu bisavô.
Ícone e defensor ferrenho da Cultura Brasileira, especialmente da Nordestina, Suassuna não suporta o estrangeirismo que nos invade de maneira avassaladora. Não consegue digerir o que a mídia que nos passar como sendo “a cara do Brasil”. Nas histórias dele e no cotidiano brasileiro, sabemos que a o Brasil tem sim, outra cara.
Em quase duas horas de palestra com um público receptivo, Suassuna falou sobre os seus mandatos como Secretário da Cultura de Pernambuco. Falou da época que lecionava, da aversão que sente por avião e viagens em geral. Levou imagens de um projeto em que está excursionando pelos mais remotos lugarejos no interior pernambucano. Ressaltou o seu amor á esposa (casados desde 1947) e que o acompanha em todas as suas apresentações. Em breve, essas aulas show completarão 100 apresentações em Exu, terra de Luiz Gonzaga, como ele próprio ressaltou.
Além das geniais histórias contadas, uma palestra de Ariano Suassuna impressiona pela lucidez de um senhor de 82 anos e muitos causos para contar. Extremamente culto e ao mesmo tempo popular, a linguagem dele nos lembra a voz de um homem do campo, de um nordestino (como de fato és) comum. Mas a voz rouca e por horas falha, ganha uma amplidão inimaginável quando proferida as palavras sábias e os relatos engraçados de se ouvir. Sem soberba e sem a vaidade daqueles que acham que estão num patamar elevado, Suassuna fala sobre o povo para o povo. É um pouco de Chicó e João Grilo (seus mais famosos personagens do Auto da Compadecida). É um pouco de um nordestino que vive da sua terra e para sua terra. É um homem possível e de uma cultura que parecer ser infinita.
Quem dera que no nosso país, houvesse mais “Arianos Suassunas”, talvez não fossemos assolados de maneira tão radiante por um misto de cultura que não nos pertence e que nada têm a ver conosco. Certamente seriamos conhecedores da nossa própria História, dos nossos mitos, heróis, da nossa abrangente e rica cultura.
Ao mestre com muito carinho, obrigado por não ter cedido aos que inúmeras vezes foram á sua casa sugerir para que você abrandasse suas críticas ou indicar sobre o que você poderia ou não falar. O senhor Ariano, tem propriedade de sobra para usar a voz do nosso povo e fazer nossa as suas palavras, seja nas suas obras ou nos seus discursos. Reafirmando assim, o meu orgulho de ser nordestino, brasileiro.
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