A estrada estava à frente, o céu acima, azul e ensolarado. De carona em um carro, uma viagem de aproximadamente 5 horas traria lembranças quase esquecidas à tona. Diante de mim, uma tela de cinema “ao vivo”, onde tudo acontecia em tempo real.
Viagem sempre me faz pensar sobre a vida, reflito sobre coisas reais e imaginárias e elas até se misturam. Realismo fantástico e barato produzido pela minha mente!Quanto mais me distanciava de Fortaleza, mais evidentes eram as imagens que eu reconhecia e que me traziam a sensação de ser de outro tempo, dentro de uma mesma vida.
O sertão, que dizem que um dia vai virar mar, tem suas particularidades pós modernas. Uma boiada em meio ao concreto e placas era conduzido por senhores da roça. Eles não usam mais cavalos para carregar a bandeira vermelha que acenam que os animais estão à frente. Usam motos e assim como banhavam os cavalos na beira dos rios, eles lavam suas motocicletas.
As casinhas beirando a pista com suas parabólicas captando o melhor sinal de um mundo que vem lá de fora. Um universo inalcançável para a maioria que ali reside, em meio ao nada e próximo a uma vastidão de céu azul e mato seco ou semi verde. E a vida segue o seu percurso.
E as cenas iam aos poucos se repetindo: casebres, pessoas, motos (substituindo quase que massivamente os pangarés) e traços tipicamente nordestinos evidenciados. Suas vestes, seus hábitos e certamente o sotaque carregado e cantante que nos é característico. E eu, cada vez mais me aproximava de Iguatu.
Depois de um pouco mais de quatro anos morando fora, cada vez que retorno lá me vem sensações novas e repetidas. Cenas cotidianas que parecem não mudar, estórias e pessoas que me esforço para lembrar nomes, datas e até fatos. E vidas se misturam, revejo família, amigos, e sinto mais do que nunca que o tempo está passando.Vejo pessoas mais crescidas e envelhecidas, mais adultas. Elas refletem que o tempo também está correndo para mim.
Foi um fim de semana que me trouxe boas surpresas: reencontros com outros e também comigo, a sensação de viver uma época que aconteceu há quase uma década.Todos nós de alguma maneira mais maduros, tanto quanto a sentimentos quanto a vida.Descobri que algumas sensações só sentimos quando estamos do lugar de onde partimos. E assim como se fosse num filme, é chegado o momento do final. Sem créditos na tela, mas com uma trilha sonora infinita de vários momentos.
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