Silenciar se preciso for.

Existe um fato (ou mito) em torno de uma clássica composição do Cartola: “Tive Sim” foi composta depois que Dona Zica o indagou se ele teve outro amor. Ele silenciou e a compôs. De fato, a letra é uma bela resposta a uma pergunta feita pelo o seu atual amor. Sabiamente, em versos e samba ele responde: “Tive, sim/Mas comparar com o teu amor seria o fim/Eu vou calar/Pois não pretendo amor te magoar”.

Cartola poderia ter se valido da premissa de que quem pergunta o que quer, pode ouvir o que não quer.Porém, com a precisão de um samba ,ele silenciou na hora exata e em seguida, explodiu poeticamente.Em alguns momentos, só o silêncio nos apresenta respostas.

Além da beleza que existe em silenciar, ele lança em versos,um cuidado genuino com a mulher que ao seu lado estava. Sem alardes,sem comparações e nem desdem.É o contrário do que vemos frequentemente, agredimos gratuitamente e somos agredidos, usamos palavras mediocres e a nossa rima fica pobre.

Pudera eu ter sempre a serenidade do calar.Mas, humano como somos e soberbos como nos portamos, sentimos a necessidade de não ter em momento algum o orgulho ferido.É o excesso de vaidade que promove uma fogueira, onde quase sempre, saímos queimados,queimamos.


Tive Sim

Cartola

Tive, sim Outro grande amor antes do teu Tive, sim
O que ela sonhava eram os meus sonhos e assim Íamos vivendo em paz
Nosso lar, em nosso lar sempre houve alegria
Eu vivia tão contente Como contente ao teu lado estou
Tive, sim Mas comparar com o teu amor seria o fim
Eu vou calar Pois não pretendo amor te magoar